Suplementos de cálcio e vitamina D não protegem ossos, diz estudo


Um idoso que viva num lar, numa situação de fragilidade, sem exposição solar adequada e com elevado risco de fraturas devido à osteoporose poderá beneficiar da toma de suplementos de cálcio e vitamina D. Mas o mesmo não será válido para um idoso saudável, que esteja inserido na comunidade. De acordo com uma investigação conduzida por cientistas chineses, que analisaram 33 estudos envolvendo mais de 50 mil pessoas, os suplementos de cálcio e vitamina D em nada contribuem para a prevenção de fraturas em pessoas com mais de 50 anos que vivam nas suas casas.

Segundo a revisão dos estudos feitos sobre o tema, publicada na revista médica JAMA, o uso destes suplementos, em separado ou combinados, não está associado a um menor risco de fraturas nas pessoas que vivem em comunidade, quando comparado ao uso de um placebo ou de nenhum outro medicamento. "Esta revisão veio reforçar a ideia que já tínhamos de que a suplementação de cálcio e vitamina D não é para ser feita por toda a gente. Os idosos saudáveis não beneficiam destes suplementos, o que não exclui a importância de fazer suplementação nos idosos em risco, nomeadamente nos que estão em lares, pois têm carências de cálcio e vitamina D e maior risco para fraturas de fragilidade", explicou ao DN Ana Rodrigues, da Sociedade Portuguesa de Reumatologia.

Ao seu consultório chegam pessoas que tomam suplementos porque "ouviram dizer que fazia bem ou porque são recomendados na televisão". Mas estes suplementos não estão isentos de riscos, alerta a médica. Se por um lado a toma contínua de vitamina D "parece não fazer mal", o cálcio em excesso está associado "a um aumento do risco de pedras nos rins, desconforto gastrointestinal, e parece que pode também aumentar o risco cardiovascular a longo prazo".

Na opinião de Fernando Fonseca, presidente da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, este é "um dos muitos estudos sobre a matéria, e dá algumas pistas, mas não é a verdade absoluta". "Põe em dúvida que valha a pena tomar suplementos de cálcio e vitamina D para prevenir fraturas. Vai ao arrepio de outros, que dizem outras coisas", afirma o diretor do Serviço de Ortopedia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, que reconhece que haverá casos em que a suplementação fará sentido, mas que as pessoas saudáveis à partida não beneficiam da mesma. Para o ortopedista, "o mais importante é prevenir as fraturas, ou seja, prevenir as quedas, que são o principal agente das fraturas".

Problema de saúde pública

Num país cada vez mais envelhecido como Portugal, as fraturas osteoporóticas representam, segundo Ana Rodrigues, um "problema de saúde pública", com "custos elevados para o indivíduo e para o SNS". Acontecem quando a pessoa cai sobre si própria e estão associadas "à baixa quantidade e qualidade do osso", sendo as do punho, da anca e das vértebras as mais frequentes. Segundo a reumatologista, os suplementos de cálcio e de vitamina D, além de poderem ser usados para prevenção nos grupos de risco (onde também se incluem pessoas que não apanham sol ou que não têm capacidade de absorver cálcio), são também usados em conjunto com outros medicamentos para o tratamento destas fraturas.

A investigadora do CEDOC, da Nova Medical School, lembra que, há alguns anos, se verificou que o consumo de cálcio não era o adequado e que existiam baixos níveis de vitamina D, o que levou a pensar que a suplementação iria ajudar. "O que se sabe agora é que não há benefícios nas pessoas saudáveis", reforça. Ana Rodrigues partilha da mesma opinião dos autores do estudo: o melhor para prevenir estas fraturas é apostar numa alimentação rica em cálcio, exercício físico regular, cessação tabágica e alcoólica e exposição solar adequada.

Cláudio Rodrigues, da direção da Associação Portuguesa de Nutrição, concorda que "não faz sentido tomar qualquer tipo de suplementação numa perspetiva preventiva" e que esta só deve ser considerada "com supervisão médica". "A tendência com a idade é para a densidade óssea e a presença de cálcio ir diminuindo", destaca, aconselhando uma alimentação variada e rica em cálcio combinada com a prática de exercício físico regular.

Entre os alimentos mais ricos neste nutriente, Cláudio Rodrigues sugere o leite e os seus derivados, os legumes verdes (como os espinafres e a couve-galega), a espinha fina da sardinha e os ovos, que, sendo ricos em vitamina D, maximizam a absorção de cálcio. Já no que diz respeito à vitamina D, "é difícil obtê-la só através de alimentos, daí que se fale tanto da necessidade de apanhar sol, que é para que haja síntese bioativa através da pele". Cuidados a ter em conta desde sempre, tal como a prática de exercício físico. Segundo o nutricionista, quando o assunto é a manutenção dos níveis de cálcio, corrida, aulas de ginásio ou desportos de grupo são preferíveis aos exercícios na água.

No geral, os suplementos alimentares são procurados por pessoas de todas as idades. "Quem os procura tem carências", diz ao DN João Almeida, da direção da Ordem dos Farmacêuticos. Segundo o diretor técnico da Farmácia Moreno, no Porto, a OE recomenda que "a toma seja acompanhada por profissionais: nutricionistas, médicos e farmacêuticos, no que toca à sua dispensa e controlo de qualidade". Não considera que haja "um problema de ingestão exacerbada deste tipo de produtos", mas revela preocupação relativamente "à venda que não passa pelo controlo destes profissionais, uma vez que têm um destino muito próprio: suprir carências. Se elas não existem, os benefícios podem ser nulos ou prejudiciais".

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